Após dois anos e meio de espera, The Handmaid’s Tale está de volta — e não economiza intensidade em sua despedida. Os dois primeiros episódios da sexta e última temporada, já disponíveis no Paramount+ do Brasil, mostram que a série criada por Bruce Miller ainda tem muito a dizer.
Elisabeth Moss segue brilhante tanto na atuação quanto na direção, comandando os capítulos “Train” e “Exile” com firmeza emocional e narrativa. E sim, prepare os lenços: os reencontros e rupturas já começam de forma devastadora.
The Handmaid’s Tale 6ª temporada Episódio 1 – Train: Entre fugas e reencontros, a dor ainda não acabou
O primeiro episódio nos coloca diretamente no caos pós fuga de June (Elisabeth Moss), que sobreviveu a um atentado e agora escapa de Toronto com um grupo de refugiados — entre eles, Serena Joy (Yvonne Strahovski), em uma aliança improvável e temporária. A tensão entre as duas é palpável: Serena insiste em se enxergar como vítima do regime, enquanto June jamais esquecerá os horrores que sofreu como Aia.
É um episódio carregado de desconforto e desconfiança em The Handmaid’s Tale. Serena tenta se redimir ajudando mães e crianças no trem, mas seu passado como cúmplice de Gilead logo vem à tona.
Em uma das cenas mais intensas da temporada, sua verdadeira identidade é revelada e ela quase é linchada pelas outras refugiadas. É June quem impede o desfecho violento, forçando Serena e o bebê Noah a pularem do trem — um gesto que desperta fúria entre os demais. “Traidora”, gritam para June. Mas sabemos que ela só fez isso porque, apesar de tudo, ainda acredita que ninguém merece Gilead.
Paralelamente, temos a grande surpresa do episódio: o reencontro de June com sua mãe, Holly (Cherry Jones), em território livre no Alasca. A sequência é conduzida com sensibilidade e embalada por Ara Batur, do Sigur Rós — um momento de alívio raro em uma série acostumada ao sofrimento.


The Handmaid’s Tale 6ª temporada Episódio 2 – Exile: Novas comunidades, velhas feridas
O segundo capítulo desacelera, mas aprofunda os dramas centrais. Serena encontra abrigo em uma comunidade religiosa liderada por mulheres, enquanto June tenta, aos poucos, encontrar paz ao lado da mãe e da filha, Nichole (ou melhor, Holly). Mas o peso da perda de Hannah continua a impedir que ela relaxe por completo.
Esse episódio também nos traz um dos conflitos mais fortes da temporada: a relação de June com a mãe. Ambas são sobreviventes, mas há ressentimentos profundos, principalmente quanto à criação de June e suas decisões em relação a Nick (Max Minghella). O confronto é honesto, doloroso, e rende diálogos poderosos sobre maternidade, culpa e escolhas em tempos extremos. “Você fodeu um nazista”, diz Holly. “Ele não é um monstro”, responde June. Uma troca que resume bem as camadas morais complexas da série.
Enquanto isso, Serena é localizada por Lawrence (Bradley Whitford), que a convence a voltar para Gilead como “rosto da reforma”. Serena aceita, com o velho sorriso ambíguo de quem nunca deixa de jogar em benefício próprio.
Nick, por sua vez, vive seu próprio dilema: entre colaborar com Tuello e ajudar a resistência, ou permanecer leal a Gilead — e à promessa de uma vida mais “livre” em Nova Belém. Ele opta por queimar a ponte com Tuello, destruindo o chip que garantia contato com a resistência. É mais um sinal de que, por mais que Nick ame June, sua posição ainda é frágil demais para qualquer heroísmo direto.
Um início promissor para o fim
Com direção precisa, ótimas atuações e um roteiro que equilibra tensão, emoção e crítica social, os dois primeiros episódios da temporada final de The Handmaid’s Tale mostram que a série não perdeu sua relevância. Ainda são muitos os dilemas a resolver — o futuro de Hannah, a resistência de Mayday, a reconfiguração de Gilead —, mas o início indica que a despedida será à altura do legado da série.
Se depender de Train e Exile, o fim de The Handmaid’s Tale será brutal, bonito e inesquecível. Como toda boa distopia deve ser.