Na sétima temporada de Black Mirror, o episódio Hotel Reverie prometia ser uma viagem ousada por dentro da obsessão de Hollywood por nostalgia e tecnologia.
Com 76 minutos de duração, cenários luxuosos e uma trama que mistura IA, cinema clássico e cultura das celebridades, o episódio tenta fazer muito — mas acaba entregando pouco.
A trama de Black Mirror 7ª temporada Episódio 3: presa no remake de um clássico
Brandy (Issa Rae), uma estrela contemporânea de Hollywood, é escalada para um remake revolucionário de um clássico estilo Casablanca. Mas essa nova versão do filme não será filmada como nos velhos tempos. Em vez disso, ela será vivida — literalmente — dentro de uma recriação virtual do longa original.
Brandy é inserida em uma simulação em preto e branco de um hotel no Cairo dos anos 1940, contracenando com personagens digitalizados, incluindo a recriação da atriz original Dorothy (vivida por Emma Corrin).
A ideia é que, se ela conseguir improvisar um desfecho satisfatório dentro dessa realidade alternativa, o filme estará completo. Caso contrário, ela corre o risco de ficar presa nesse universo para sempre. Quem guia essa experiência tecnológica é uma executiva de projeto interpretada por Awkwafina, que tenta (sem muito sucesso) explicar os complexos mecanismos por trás da experiência.


O problema não é a tecnologia — é o vazio da crítica
Em teoria, Black Mirror 7ª temporada Episódio 3 tinha tudo para ser um dos grandes destaques da temporada. A série já acertou em cheio ao discutir entretenimento e simulações em USS Callister, e com o avanço da IA generativa, remakes e deepfakes, o tema continua mais atual do que nunca. Mas Hotel Reverie parece não saber muito bem o que dizer sobre isso.
O argumento central — sobre a futilidade da indústria do entretenimento em reviver glórias do passado — se perde em uma trama que tenta justificar demais a própria existência. Em vez de fazer sátira ou crítica, o episódio tenta tornar crível uma lógica já absurda desde o início. Isso dilui o impacto da narrativa e faz com que o espectador se pergunte: por que estamos assistindo a isso?
Atuação apagada e direção sem identidade
Issa Rae, uma atriz com comprovado carisma e timing cômico, não encontra espaço para brilhar. Sua Brandy parece deslocada e, ironicamente, tão confusa quanto o espectador. Já Emma Corrin, como a diva digital Dorothy, se entrega ao papel de estrela do cinema clássico, mas não consegue salvar o episódio do tédio narrativo.
A direção e a fotografia de Black Mirror 7ª temporada Episódio 3 são visualmente impressionantes, especialmente nas cenas em preto e branco que recriam com esmero o glamour da era de ouro de Hollywood. Mas a estética não compensa a ausência de substância: há pouca emoção, pouca ironia e quase nenhuma tensão.
O que Hotel Reverie deveria ter sido?
Este episódio tinha o potencial de ser uma crítica mordaz sobre como a nostalgia e a tecnologia podem distorcer nossas narrativas culturais. Em vez disso, ele parece mais preocupado em se parecer com um episódio de Black Mirror do que em realmente sê-lo.
O conceito de uma atriz presa dentro de uma realidade virtual inspirada por um clássico é rico, mas mal aproveitado. O roteiro não se aprofunda nos dilemas éticos, nem nas implicações emocionais da simulação.
Veredito sobre Black Mirror 7ª temporada Episódio 3
Hotel Reverie é ambicioso e visualmente elegante, mas é também um dos episódios mais vazios e sem foco da antologia. Não falta dinheiro nem intenção — falta alma. E, ironicamente, para um episódio que fala tanto sobre como as histórias precisam de coração para funcionar, essa ausência se torna ainda mais evidente.
No fim, Hotel Reverie soa como um daqueles remakes que tenta emular a magia do original sem entender o que o tornava especial. Um capítulo esquecível dentro de uma série que já entregou experiências inesquecíveis.
Black Mirror: Hotel Reverie já está disponível na Netflix.